19.4.10

Ecrã Pontemkin



A propósito da visita de Catarina II, imperatriz da Rússia, em 1787, aos seus países mais recentemente conquistados- Ucrânia e Crimea-, o príncipe Grigory Alexandrovich Pontemkin decidiu criar povoações falsas para impressionar a imperatriz. Conta a história que uma série de artificialidades espantaram os olhos da Imperatriz.
Isto para contar que a expressão “cidades Pontemkin” acarreta consigo a conotação de construções ilusórias, artificiais e portanto discordam da verdadeira realidade. Uma destas cidades conhecemos bem pela câmara de Peter Weir, no filme The Truman Show de 1998.
Isto ainda para contar que outro exemplo destas “cidades” foi o desplante do senhor Adolf Hitler que deu ordem directa para se iniciar o processo de embelezamento do campo de concentração de Terezín, pois receberiam a visita de um comité internacional da Cruz Vermelha. Os senhores da Cruz Vermelha estavam preocupaditos, vá, depois de terem ouvido rumores de um tal plano “solução final”, que aniquilaria a raça judia da superfície da terra.
Aconteceu que foi tão bem montado o cenário nazi que o relatório deste comité não descobriu nenhuma infracção aos direitos humanos. Sabe-se hoje que este campo de concentração, de seu nome  Theresienstadt ou Gueto Paraíso, tinha um dos maiores níveis de aniquilamento de judeus através  das famosas câmaras de gás, subnutrição e proliferação de doenças. Entrevistado por Claude Lanzmann, Maurice Rossel, um dos enviados deste comité, contou que os seus olhos eram os olhos do mundo e tinha a obrigação de ver mais além, contudo não havia o menor sinal da cruel realidade, pois tudo era um “ecrã perfeitamente elevado aos seus olhos”.
Tudo isto, ainda para dizer que o senhor W.G. Sebald escreveu um livro intitulado Austerlitz cujo protagonista, a dada altura, procura nos filmes nazis de propaganda (realizados exactamente aquando da visita do comité internacional) o rosto da sua mãe. Para ver as imagens com cuidado, passa o filme em slow motion o que produz uma distorção do som. O que antes eram vozes energéticas passaram a ser rugidos ameaçadores; iguais às feras enjauladas que ele reconhecia de uma visita ao jardim zoológico. O protagonista não encontra a sua mãe mas pressente o perigo daquelas imagens aparentemente banais.
Tudo isto para dizer que me faz pensar no filme Memory of Berlin de John Burgan de 1998.
Tudo isto para dizer que quero ler o livro, que não li. Pronto, é só isto.


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4 comentários:

Menina Limão disse...

essa passagem do livro agrada-me e muito, cherri

Annie disse...

espero que seja mais ou menos isto. porque eu não li o livro. eventuais reclamações num blog perto de si.
beijos liminipipi

Menina Limão disse...

ah, eu também não, eheh, quis dizer que fiquei espicaçada.

Annie disse...

eu sei. é para eventuais reclamações. para parecer que sou precavida e recatada. ahah