4.11.10

S.



JACK- (...) Esvaziei a minha carteira. Era de esperar que um miúdo aceitasse subornos: mas tu não. (pausa) Ele [o Pai] já se tinha ido embora há um ano, quando tu fizeste oito anos e começaste a desmaiar. Na escola andavas a desmaiar a toda a hora, a professora ligava-me, eu dizia-lhe que era de família. (tempo) Sabes aquele sonho? Estamos a caminhar à beira de um precipício e está vento e escorregadio, estamos os dois lá em cima e tu és pequeno e estás a fazer disparates, não me prestas atenção e eu estou mesmo a ver o que vai acontecer e depois tu Cais. Escorregas-me da mão e cais no precipício. Eu vejo-te no ar, a cair, a ficar mais pequeno, e depois Desapareces.

Pausa

Então comecei a falar. Contei-te tudo sobre o pai. Tudo aquilo que me viesse à cabeça. Punha um prato com comida à tua frente, um copo de leite, um bocado de pão. Tu ouvias-me como se eu fosse um Deus a falar e comias o que eu te pusesse à frente.

Excerto da peça "Num dia igual aos outros" de John Kolvenbach.

(Este tipo; és tu a falar-me. E aquela da imagem és tu, e sou eu a ver-te enquanto caio.)

Fotografia da Annie
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2 comentários:

Sandra Carvalho Rocha disse...

enquanto eu respirar, tu nunca vais estar a cair.

Annie disse...

ambas sabemos o que fizemos a semana passada...