9.6.11

No quarto da Vanda




Às vezes não interessa o lugar. Começamos com um artigo de um realizador japonês. Vocês sabem... o Nobuhiro Suwa. Primeiro lemos em inglês, criticamos a intenção da tradução. Esclarecemo-nos em português, alemão e voltamos ao inglês. Discutimos a prática. Eu sou a primeira a trazer os factos à luz da técnica. Faço desenhos esquemáticos com câmaras e possíveis ângulos de enquadramento de determinados planos. Falo-lhe das relações que se estabelecem com a luz e com o que está fora de campo. Daqui saltamos para uma nova fase. Falamos das setas que eu desenhei: da direcção bilateral. Das combinações possíveis entre as variáveis. São actores profissionais, não são actores profissionais. O nome dela é Vanda. Cospe para a cama. A imagem vista pelo espectador na sala de cinema é ela. Aspiramos ser precisas com as palavras. Discutimos as palavras exactas que devemos usar. Exploramos outros caminhos. Lembramo-nos de quadros, esculturas, peças de teatro. Só depois vem a literatura. Carambas, sabemos tão pouco aqui... Isso, sabemos nós bem! Não nos preocupamos. Deixamos a teoria... a sociologia, a psicologia, a filosofia. Escolhemos a antropologia. Pensamo-nos. Libertamo-nos do artigo. Estivemos demasiado tempo nisto: "Pedro [Costa] has not taken advantage of reality to fabricate a pseudo-real world; nor has he attempted to preserv some intact fragments of real life. Vanda signifies both Vanda and Pedro, images crystallized through the interaction with the spectator's gaze. She is a representation of new gazes that contemplate how people can live together...Vanda is now. She is here just now...". Rimo-nos muito, claro. Depois calamo-nos por alguns minutos. Há demasiadas coisas a pairar. As pontas dão nós. Não são os mesmo nós, mas são-nos comuns. Precisamo-nos na teoria. Somos na prática. Também aqui e agora. Somos. Sem mais nada. Com falhas imensas, honestamente. Só para isto é que a teoria nos serve. Negamos o fetichismo teórico, inventamo-nos. Estamos felizes. Vemos outra vez o filme português. Dormimos. Fico doente; ela cuida de mim em alemão.

Fotograma do filme No Quarto da Vanda de Pedro Costa, 2000
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