7.6.10

2/3 dela, 1/3 dele





Não sei bem quando é que começou a minha admiração pelas proporções. Hmmm, talvez numa cena do filme The Postman Allways Rings Twice, um filme de Tay Garnett de 1946. Era aquele plano em que os fugitivos deixavam uma nota de despedida na caixa registadora que seria o local privilegiado onde o marido abandonado e somítico iria desembocar inevitavelmente à procura de justificações. Claro! Não fosse ele ser roubadinho... isso é que não, a mulher até pode ir, agora... com dinheiro é que não se brinca. A caixa, o bilhete de despedida e o dinheiro ganham uma proporção avassaladora em que palavra alguma teria  relevância.  
Em Eyes Wide Shut, filme de Stanley Kubrick de 1999, há esta proporção “viva” que é o motor da própria condição poética da narrativa. Não se espera nada mais deste encontro porque as hipóteses estão esgotadas desde o início. Como aponta Slavoj Žižek (não nestas palavras): a fantasia real e vivida pelo personagem do Tom Cruise não chega aos calcanhares dos sonhos da sua esposa, interpretada pela Nicole Kidman. Daí não admira parecer que ele nem sequer parece estar ali, naquele encontro, naquela casa e na cama desta espécie de prostituta. Isto leva-me a equacionar as proporções dos beijos reais (os oníricos são outra história). E acho que é um assunto sério.

Fotograma de Eyes Wide Shut de Stanley Kubrick, 1999


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