30.5.10

Vou. Agora.





Começa pelo lado esquerdo. Primeiro o nó pequeno, já está. Agora sente bem a corda a deslizar entre os teus dedos. Uma volta pequena, duas voltas, cada vez mais espaçado. Agora, o outro nó. Não o consegues desfazer com as mãos. Está mt apertado, é o mais antigo e deste eu nunca me consegui desfazer nas minhas tentativas de fuga. Toma esta faca. Olha-me nos olhos. Não há dúvidas. Pega na faca. Corta e não chores. Um golpe só, anda. Agora traz o vestido. Veste-me o corpo. Não tenhas medo, lembrar-te-ás sempre desta cor. Levanta-me um pouco, ajuda-me a sentar-me. Ok. Já está. Ai o meu pé, o meu pé. Não chores. Ajeita os meus cabelos...por detrás da orelha, pode ser. Tira-me o sujo de terra da cara. Limpa com a manga da tua camisa. Humedece-a com saliva. Ok. Pinta-me os lábios. Está bem, está bem, os meus lábios não. Não exasperes. Estamos calmos, os lábios não, os lábios não. Agora liberta-me as mãos. A chave está no teu cordão prateado. Roda a chave. Já está. Ouve-me. Estás preparado? Vou rodear-te a nuca com as minhas mãos e vou dizer-te uma coisa importante.            Vou embora. Nunca mais, quero que saibas que nunca mais. E tu vais ficar aqui até eu poder estar longe. Dá-me a mão. Ok. Já estou de pé. Não chores. Vou. Agora.


A fotografia é do George Holz
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2 comentários:

betânia liberato disse...

este teu post deixa-me assim (...)

Annie disse...

obrigada